um soneto de Luís de Camões
Quando a suprema dor muito me aperta,
se digo que desejo esquecimento,
é força que se faz ao pensamento,
de que a vontade livre desconcerta.
E assi, de erro tão grave me desperta
a luz do bem regido entendimento,
mostrando que é engano ou fingimento
dizer em que tal descanso mais se acerta.
Porque essa mesma imagem, que na mente
me representa o bem de que careço,
me faz de um certo modo ser presente.
Ditosa é logo a pena que padeço,
pois que da causa dela em mim se sente
um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.
Imagem: retrato de Luís de Camões, por William Blake.
Quando a suprema dor muito me aperta,
se digo que desejo esquecimento,
é força que se faz ao pensamento,
de que a vontade livre desconcerta.
E assi, de erro tão grave me desperta
a luz do bem regido entendimento,
mostrando que é engano ou fingimento
dizer em que tal descanso mais se acerta.
Porque essa mesma imagem, que na mente
me representa o bem de que careço,
me faz de um certo modo ser presente.
Ditosa é logo a pena que padeço,
pois que da causa dela em mim se sente
um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.
Imagem: retrato de Luís de Camões, por William Blake.
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