quinta-feira, 19 de julho de 2007

Evocação

Excerto de uma carta de João Rêgo († 4.7.2007) a um amigo

“Mentalmente mantenho-me activo escrevendo, escutando e tentando interpretar sentimentos e sofrimentos. Percebi este verão o alcance de alguns avisos de Sampaio Bruno, nas últimas páginas de A Ideia de Deus:

Se o mundo não existe para que o homem o saiba, também não existe para que o homem o goze, filosofar, filosofar sempre é que é o destino humano…

Percebi que, enquanto viver, não estou autorizado a descansar. Deter-se a alma nalguma satisfação ou nalguma felicidade é abrir a porta a monstros. Até aqui não acreditava que quanto mais luminosa a ideia entrevista tanto maior o perigo da queda, quando o movimento desaparece. A vida do espírito é deveras só movimento, movimento exigente. Quem esquece isto corre sérios riscos de ficar paralisado por muito tempo. Creio que é esta também uma das mensagens de Álvaro Ribeiro no prefácio de A Literatura de José Régio. Não tinha compreendido até agora por que motivo Álvaro se lamenta da insistência do anjo…”

João Rêgo

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