sábado, 30 de junho de 2007

A sombra de Eurídice (2)

Ao triste estado

Frei Agostinho da Cruz

Passa por este vale a primavera,
As aves cantam, plantas enverdecem,
As flores pelo campo aparecem,
O mais alto do louro abraça a hera.

Abranda o mar, menor tributo espera
Dos rios, que mais brandamente decem,
Os dias mais fermosos amanhecem,
Não para mim, que sou quem dantes era.

Espanta-me o porvir, temo o passado,
A mágoa choro dum, doutro a lembrança,
Sem ter já que esperar nem perder.

Mal se pode mudar tão triste estado,
Pois para bem não pode haver mudança,
E para maior mal não pode ser.

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